quem espera encontrar em cabo verde as caraíbas a três horas de distância seguramente que terá a maior decepção onde reside todo o encanto
a ilha da boavista está longe de ser um destino turístico de postal… para tal contribui a paisagem quase lunar de montanhas cobertas de pedras e despidas de vegetação – povoadas apenas por algumas palmeiras dobradas pela persistência dos ventos alísios que chegam do sahara e pelos pequenos oásis – praias lindas e extensas, de imensos areais onde as tartarugas vão desovar, mas com ondas - ainda que pacificas - e sem qualquer apoio de praia, restaurantes simples mas onde se come o melhor carpaccio e onde se descobre a magnifica cozinha cabo verdiana, estradas esburacadas, pouca água, e a beleza indescritível das dunas de areia do sahara que avançam até á praia
este é um destino para viajantes, que procuram a riqueza de um povo e a autenticidade, é um estado de alma…
Larissa, uma jovem italiana formada em belas artes, recuperou uma antiga aldeia de pescadores em ruínas de forma conceptual e exemplar
são dez casas em pedra de portadas coloridas a respeitar a arquitectura local, amplas, luminosas e muito confortáveis com piso em cimento polido e madeira embutida – tradicional da região – telhados cobertos a madeira e palha, e muros de pedra cobertos a cal
entre as casas e o mar estende-se um imenso areal e uma estradinha que nos leva até a uma pequena praia, sem chiringuito mas com duas maravilhosas cabanas com camas e redes e onde apenas se ouve o mar
frente às casas esticam-se chaisse longues e espreguiçadeiras, e um delicioso alpendre onde se almoça ou janta divinamente embalado pelo esvoaçar dos voiles
na ilha da boavista, em qualquer poiso – porque não há restaurantes sofisticados – a cozinha é deliciosa, o peixe fresquíssimo e a herança portuguesa por toda a parte
o clube nacional é o benfica, o vinho é de portugal ou de itália, e a maior surpresa fala-se um português correctíssimo e melodioso como já não se houve em portugal…
huguinho, um cabo verdiano discreto e bonito, leva-nos na sua pick-up a descobrir a ilha e outras praias, a praia do curral velho, ervatão e santa mónica, as cordilheiras, as vilas, e as aldeias de pescadores abandonadas… e a subir as dunas de areia do sahara que avançam até ao mar
no spinguera não há televisão, nem telefone, nem internet, nem ar condicionado... há a sensação única de se ouvir o silêncio e de se estar num deserto junto ao mar
o fascínio de um lugar que ficou intacto pronto a ser redescoberto por quem procura lugares autênticos, onde a simplicidade se transforma em estilo e a natureza é sinónimo de luxo, onde o silencio é cortado pelo som do vento e do mar